Kerry Minear, tecladista do Gentle Giant é simplesmente fenomenal quando se trata de multitecladistas. Como a música do Gentle Giant é repleta de variações, muitas vezes inusitadas, um tecladista para acompanha-las precisa realmente ser habilidoso e criativo.
Pincei para uma breve análise o magistral solo de Kerry Minear em “Working All Day”, do álbum “Three Friends” de 1972. Aqui é um caso em que Minear trabalha bastante com o clavinete na base da música, que tem várias linhas de saxofone e guitarra. Mas um pouco após os 2 minutos e poucos, acordes sutis e graves no órgão começam a surgir nos alto falantes, em um ótimo exemplo de crescimento de dinâmica. Algumas notas começam a entremear os acordes; elas começam gradativamente a aumentar de quantidade, intensidade e altura (ficando mais agudas), até que o ouvinte percebe realmente que um solo magistral está sendo construído diante de seus ouvidos. Por volta dos 2:40, descidas e subidas rápidas na escala começam a acontecer.
Em 3:05, Minear começa a martelar notas dissonantes que dão um efeito bem interessante, contrastante com a base da música. Logo, é possível notar que ele modifica o registro das drawbars do órgão, para deixar o som um pouco mais agudo e começa com arpejos e subidas de escala, que desembocam em um belo vibrato, com um rasante rápido e descendente pela escala. Essa descida não é sutil, já que Minear passar a trabalha com frases mais repetitivas na zona grave, dando um aspecto percussivo a execução do solo. Nisso já se passaram quase 2 min de deleite sonoro no órgão Hammond. Um solo memorável, para se ouvir e reouvir.
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