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Ronaldo Rodrigues

Ronaldo Rodrigues - Vol. II

O tecladista Ronaldo Rodrigues, proeminente músico da cena progressiva do rock brasileiro e músico de estúdio de envergadura internacional, lançou seu segundo trabalho solo - Vol. II, em associação com o selo BeProg no último 16 de setembro. O álbum conta com 9 composições inéditas do tecladista, que é membro das bandas Caravela Escarlate, Arcpelago e do projeto multinacional Blue Rumble, transitando pelo hard/blues-rock, prog e fusion com fortes inspirações do rock dos anos 60-70.


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O álbum vai além de um "disco solo instrumental de tecladista" com farta instrumentação e participações de peso de músicos renomados e ativos no rock brasileiro - Elcio Cáfaro (veterano baterista da mpb/instrumental brasileiro e colega de Ronaldo na Caravela Escarlate), Marcelo Amorim (guitarrista, colega de Ronaldo no Arcpelago), Clifton Macnamara (baterista, Carmel), Jairo Martins (guitarrista, ex-Tublues e solo), Renato Amorim (baterista, Cosmo Drah), Andrea Gelardini (guitarrista, colega de Ronaldo no Blue Rumble), Eduardo Marcolino (guitarrista, Anxtron e solo) e Alex Sheeny (engenharia de som, guitarrista, Psilocibina). A visão musical de Ronaldo Rodrigues inclui uma participação bastante democrática dos demais instrumentos, com arranjos que valorizam o talento dos convidados. Mas obviamente, há teclados analógicos em profusão em todas as faixas - órgão Hammond, piano elétrico, clavinete, mellotron e muitos sintetizadores - um verdadeiro deleite para quem gosta dessas sonoridades.


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O álbum inicia com "Estrada Velha", faixa cheia de energia e inspirada pelo som de grupos como Mountain, Deep Purple, Cream e Baker Gurvitz Army. A levada forte e constante, com o groove incensante do órgão e solos lancinantes de teclado e guitarra, remetem a um som para se ouvir em alta velocidade, embalando os frequentes trajetos que Ronaldo fazia na estrada velha Rio-São Paulo, no Vale do Paraíba. Já "Garoa" é inspirada nas montanhas do Rio de Janeiro pontuadas com o cinza de um dia chuvoso, com clima mais instropectivo e belíssimo trabalho instrumental de Elcio Cáfaro na bateria e Marcelo Amorim nas guitarras. "Ponto de Fusão" é uma canção fusion por excelência, na qual um furioso duelo entre teclados e guitarras (cortesia de Eduardo Marcolino) se dá, num ambiente cheio de variações e mudanças de andamento. O baterista Clifton Macnamara consegue dar na faixa um toque roqueiro à la Carmine Appice e Michael Shrieve, o que torna a fusão ainda mais rica. "Terras Raras" aterrisa os ouvidos do ouvinte em uma espécie de deserto psicodélico, no qual reminiscências de Pink Floyd e Eloy são inseridas em uma levada quase hipnótica. Marcelo Amorim e Ronaldo Rodrigues constroem juntos um laboratório de sons viajantes nessa faixa.


"Brasas" surgiu quando Ronaldo aprendeu um mínimo de guitarra com o amigo Jairo Martins e compôs alguns riffs; é um dos momentos mais rockeiros do disco, no qual a guitarra ardida de Andrea Gelardini explode nos alto falantes e a bateria cheia de malícia de Clifton transporta o ouvinte diretamente para o brisado fim dos anos 60. Se o início da faixa é voltado para as guitarras, o miolo é domínio dos teclados, no qual o piano flutua de um lado e o órgão de Ronaldo "deita e rola" do outro, evidenciando fortes influências de nomes como Vincent Crane e Jon Lord. A próxima faixa é "Um dia de cada vez", uma música funkeada e inspirada nas trilhas sonoras "blaxploitation" do início dos anos 70. O

piano elétrico faz um som envolvente para os bends marcantes de Eduardo Marcolino, introduzindo um groove pesado cheio de órgão e wah-wah, que depois abre espaço para um formidável solo de sintetizador de Ronaldo. "No Reino das Águas Ácidas" é a faixa mais progressiva do disco, repleta de variações. Neste exercício de virtuose prog, Ronaldo cuida dos teclados e do baixo (tocado nos teclados assim como em todas as outras faixas de Vol. II) e Renato Amorim cuida da bateria e da guitarra, onde podemos sacar influências de Curved Air, King Crimson, Camel e Van der Graaf Generator. Já em "Farrapos", um swing surpreendente com cara de jam session é trazido, mostrando que o ecletismo é uma marca vibrante de Vol. II, com ótimos solos (em clara inspiração de Brian Auger) e levadas espertas de bateria. O disco se encerra com a espetacular "Alvorada do Ser", um épico de prog/psych/space-rock, no qual os sintetizadores estão em primeiro plano junto com um mellotron de tintas épicas. A faixa desenrola-se com um groove envolvente até desembocar numa apoteótica sessão de solos de sintetizador, onde fica ainda mais claro o talento de Ronaldo Rodrigues.



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Aparentemente, algumas faixas do álbum tem finais um tanto bruscos, que poderiam ter sido mais trabalhados e obter maior impacto. Também a duração de algumas faixas parece exigir um pouco mais de tempo em algumas, deixando um constante sabor de "quero mais", mas isso pode ter sido intencional. Como os graves foram todos gravados nos teclados, algumas linhas de baixo parecem poucos exequíveis com um instrumento de verdade, e poderíamos dizer que a presença de um baixista convidado poderia deixar o resultado um tanto mais orgânico, ainda que a produção de Alex Sheeny seja esmerada e digna de muitos elogios.

Existem dúzias de tecladistas com mais técnica que Ronaldo Rodrigues; contudo, percebe-se que há poucos realmente empenhados em produzir uma obra musical com senso de perenidade, em que realmente se busque conjugar boas composições, boa execução instrumental e boa sonoridade. Ronaldo Rodrigues, em Vol. II, transborda de musicalidade, fazendo um trabalho de alto quilate em matéria de rock, apto a captar e cativar ouvintes que

apreciam um instrumental caprichado.


João Carvalho Neto


O texto a seguir foi elaborado pelo crítico musical e radialista João Carvalho Neto, diretamente no nosso site, expressando integralmente sua opinião.


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