Os teclados são instrumentos muito versáteis, que podem realizar diferentes funções em uma música. A versatilidade dos teclados vem pela variedade de sons (timbres) diferentes que podem ser obtidos, pelo alcance das notas (desde notas muito graves até notas muito agudas) e pela possibilidade de se obter notas de curta e longa duração (com ou sem sustentação).
Baseado nestas características, em uma gravação, os teclados então podem serem inseridos com diferentes funções. De acordo com essas funções, os timbres devem ser bem escolhidos para que essas funções sejam bem desempenhadas. Vamos tratar brevemente dessas funções e trazer exemplos de cada uma delas.
1. Acompanhamento
Teclados atuam como instrumento de acompanhamento no momento em que a música está sendo conduzido pela melodia vocal ou quando algum outro instrumento harmônico (capaz de executar melodias) está executando um solo. Neste caso, o "destaque" principal desse trecho da música não é o teclado. Por essa razão, é importante que o timbre seja até certo ponto "discreto" mas capaz de oferecer uma boa base para que a voz ou o instrumento solista se destaque. Em geral, para acompanhamentos de teclados, se usam notas mais longas, acordes ou riffs (pequenos fragmentos melódicos que ficam se repetindo dentro da harmonia). Timbres de órgão ou cordas (como os providos pelas "strings-machines", mellotron ou sintetizadores polifônicos) são os mais usados nessa função. Mas também formas de acompanhamento rítmico, com acordes tocados de forma "percussiva" são comuns, especialmente com clavinetes e pianos. Veja exemplos de teclados acompanhando voz e solo de guitarra:
Pink Floyd - Echoes (a partir de 01:46)
Stevie Wonder - Superstition (desde o início)
Chicago - 25 or 6 to 4 (a partir de 02:56, como acompanhamento do solo de guitarra)
2. Solista
Nessa função é onde os teclados, de fato, "falam alto" na música. E nesse caso, há maior liberdade de formas e timbres, podendo incluir trechos com progressões de acordes, riffs, melodias, passeios por diferentes escalas, etc. Os timbres para solo em geral são timbres que permitem ataques rápidos, seja com notas de curta ou longa duração (com ou sem sustentação). Dificilmente uma strings-machine ou um mellotron será capaz de produzir uma boa resposta em um solo, mas pianos (acústicos ou elétricos), sintetizadores (mono ou polifônicos), clavinetes e órgãos podem ser bem colocados para um solo de teclado. Veja um exemplo poderoso de teclado solando, com Keith Emerson na década de 70:
ELP - Karn Evil 9 3rd Impression (a partir de 04:24)
3. Melódica
Essa função se confunde um pouco com a anterior, mas ela diz mais respeito a trechos instrumentais das canções, como introduções, convenções, interlúdios e finalizações, nos quais o teclado executa uma melodia definida, como se fosse um "tema". Os solos tem um caráter mais livre, sendo frequentemente executados a partir de improvisações. Já os temas, são partes bem definidas em termos de execução, são "ganchos" do arranjo e demandam uma interpretação apropriada dos teclados. A natureza da melodia e de como os demais instrumentos participam da execução do tema é que vai direcionar a melhor escolha do timbre, já que os temas podem ser compostos com notas mais longas ou notas mais curtas, ou serem tocados simultaneamente por vários instrumentos. Veja a função melódica dos teclados em duas introduções magistrais de Rick Wakeman em seus tempos de Yes:
Yes - And You And I (a partir de 00:36)
Yes - Long Distance Runaround (desde o início)
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