O rock progressivo é um estilo com predominância dos teclados. Tecladistas virtuosos e de grande envergadura técnica foram (e ainda são) essenciais para que o estilo atingisse sua plenitude musical. Além disso, nenhum outro estilo musical usou tamanha variedade de teclados como o rock progressivo.

Boa parte da riqueza musical dos teclados no rock progressivo está pretensiosamente compilada nessas longas faixas do rock progressivo da década de 1970. A lista não está em ordem. Detalharemos um pouco cada faixa, explicitando os diferentes teclados utilizados e a forma como se encaixaram nos arranjos. O leitor poderá se inteirar em um pouco do magnífico trabalho de teclados dessas faixas e da inventividade dos tecladistas por trás desses sons incríveis.
Yes - Heart of the Sunrise

Rick Wakeman atingiu fama internacional quando deixou o Strawbs, grupo de prog/folk britânico, em 1971 para entrar no Yes, que procurava um multitecladista virtuoso para ousadias musicais ainda maiores do que as anteriormente gravadas. Rick Wakeman já chegou mostrando uma inteligência musical acima da média - em Heart of the Sunrise, seus teclados encontram um espaço único entre riffs marcantes de guitarra e uma nervosa sessão rítmica composta por Bill Bruford e Chris Squire. Wakeman começa marchando paralelamente ao riff de guitarra e baixo com o órgão Hammond, que preenche as pausas com dissonâncias e notas cheias de tensão. Em seguida, o clima de suspense proposto pelo riff de baixo é acompanhando com uma soturna sequência de acordes no mellotron, até que o órgão Hammond se enfureça novamente como no início. Para a sessão vocal da música, Wakeman usa de maneira surpreendente órgão Hammond, piano acústico, mellotron e Minimoog. Ao invés de soar como uma aparente salada aleatória de sons diferentes, tudo é harmonizado com em uma refinada gastronomia.
Emerson, Lake & Palmer - The Endless Enigma, Pt. 1

Há tantos exemplos possíveis de teclados dentro do repertório do ELP que é difícil eleger apenas uma faixa representativa dos teclados na obra progressiva dessa banda. Keith Emerson era um gênio - simples assim! Nessa faixa somos inseridos em experimentações propostas pelo sintetizador ARP, com modulações feitas em tempo real, e pelo virtuoso piano acústico de Emerson, em um esquema "pergunta-resposta". Outro sintetizador emula uma espécie de clarinete (ou gaita de fole) e um contraponto genial de órgão Hammond e piano acústico prepara a entrada da banda toda. Carl Palmer e Greg Lake entregam uma base poderosa para Emerson voar com um solo de Hammond. Diferentes timbragens de órgão são usadas na parte vocal da música, das mais cândidas às mais impactantes, tendo também o piano como sustentação na base, mostrando a capacidade dinâmica de Keith Emerson.
Genesis - Dancing with the Moonlit Knight

Argent - The Coming of Kohoutek/Once Around the Sun/Infinite Wanderer

A suíte, em três partes, lançada pelo Argent como abertura do disco Nexus (1974), é uma explosão de teclados! Ela começa com uma introdução estonteante feita pelo mellotron, um sintetizador e um pedal Moog Taurus; em seguida um pesado shuffle é a base para um violento solo de órgão Hammond apoiado por um Minimoog. Um momento de calmaria se sucede, com mellotron e uma base sutil no órgão, até que uma nova seção é introduzido por um órgão de tubos (!) no qual novamente o peso trazido pelo pedal Moog Taurus é marcante. Para abrir a parte final da suíte, uma rápida intervenção de piano acústico é complementada pelo sintetizador Minimoog, até que o shuffle reaparece e Rod Argent faz chover em seus solos, alternando entre o Hammond e o Minimoog. Se você gosta de teclados e não conhece essa faixa, faça um favor a si mesmo e ouça!
Pink Floyd - Dogs

Richard Wright não era exatamente um virtuoso e nem um tecladista afeito a solos, mas era um mestre na criação de texturas e climas únicos para as músicas do Pink Floyd. Era uma peça-chave na engrenagem de rock "espacial" que o Pink Floyd praticava. No disco Animals, de 1977, Richard Wright usa uma inédita variedade de teclados em uma única música. Tudo bem que estamos tratando de uma suíte de nada menos que 17 minutos. O som de seu órgão Hammond é trabalhado com efeitos de phaser e eco, fazendo uma base marcante e essencial para o resultado da música. Um belo tema de sintetizadores duela com a brilhante guitarra de Dave Gilmour, até que o Hammond dá lugar ao piano elétrico Fender Rhodes e ao ARP Strings Solina para que Dave Gilmour entre com seu solo magistral. Na seção central, impressiona o quanto o Fender Rhodes dialoga bem com o violão base, para depois o ARP Strings e os sintetizadores levarem o ouvinte para outra galáxia.

Belas escolhas de músicas. Maa tenho dúvidas quanto a escolha do Yes. Eu iria de Close to the Edge... Essa música fez eu apreciar teclados, aliás esse disco todo é magnífico no que concerne aos teclados.